A adesão de Mark Zuckerberg (proprietário do Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads) aos princípios ultraliberais da direita é uma declaração de guerra ao movimento internacional pela regulação das plataformas digitais.
Política e Comunicação Janeiro 12, 2025
Por:
José Augusto Camargo
A declaração pública de Mark Zuckerberg (proprietário do Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads) em apoio aos princípios ultraliberais da direita é uma declaração de guerra ao movimento internacional pela regulação das plataformas digitais, o que, aliás, também vem fazendo Elon Musk e sua plataforma X. Ao abandonar o sistema de checagem (fact checkers) oficial das postagens o Facebook abre a porta para uma ameaça à democracia na medida em que o poder econômico obtêm mais espaço do que o popular uma vez que a capacidade de divulgação dos setores da elite, impulsionando suas mensagens de forma profissional, é muito superior à do cidadão comum.
Neste ponto é necessário abrir um novo parêntese para deixar claro que as redes sociais nunca foram, ao contrário do que pensam os ingênuos ou os mal-informados, um espaço de defesa dos valores democráticos onde o usuário estivesse livre do controle das plataformas, como deixa bem claro tanto os algorítimos como os termos que assinamos – sem ler – ao ingressar em uma rede social.
O resultado que se pode esperar da nova política anunciada é o de que a visibilidade dos grupos minoritários nas redes sociais vai diminua ainda mais. A discriminação dos grupos vulneráveis no espaço digital levará ao enfraquecimento dos direitos civis (esfera onde o cidadão exerce individualmente sua igualdade em relação aos demais) e também dos direitos sociais (quando grupos manifestam livremente seus interesses coletivos) privilegiando, por consequência, o poder político das elites que na ordem capitalista tem mais visibilidade e se expressam com muito mais vigor do que o campo popular.
É óbvio que o alinhamento de Zuckerberg (e de Elon Musk) com o governo Trump expressa uma posição ideológica, mas estas ações são principalmente medidas tomadas para proteger o “modelo de negócio” que defendem. Lembremos que em 2021 o Facebook mudou o nome para Meta Platforms pois pretendia ser a pioneira na exploração e desenvolvimento do metaverso, ou, realidade virtual. O problema foi que sua tentativa de impor uma nova tecnologia não se mostrou muito viável e o sucesso da Inteligência Artificial (IA) parece ter enterrado seus planos.
Em 2022 a startup Open AI lançou o Chat GPT e deu início a febre da IA, uma tecnologia que já existia de forma embrionária mas até então não havia se mostrado suficientemente desenvolvida a ponto de se tornar um negócio promissor. A partir de então as grandes do setor se mexeram para, como é de sua natureza, obter o controle da nova tecnologia e dominar comercialmente seu uso. A Meta criou o Llama sua própria IA generativa, a Microsoft fez a Copilot, a Google desenvolveu a Gemini, Jeff Bezos veio com a Amazon Nova e tem também a Apple Intelligence, sistemas lançados a toque de caixa e a custas de milhões de dólares investidos em poucos anos.
No estágio em que se encontra a disputa comercial entre as big techs frente ao terremoto da IA, qualquer forma de controle e regulação sobre as redes sociais não só afetaria o seu modelo tradicional negócio (baseado na coleta e tratamento de dados dos usuários para uso econômico nem sempre muito claro) como pode impactar o caixa destas empresas que são acusadas de violar os direitos autorais ao usar de maneira ilegal dados de terceiros para o chamado “treinamento” de máquina, o que, como sabemos pela imprensa, vem originando uma série de ações judiciais.
O investimento em pesquisa é altíssimo e os financiadores esperam retornos compatíveis, por isto, um ambiente regulado pode comprometer a capacidade destas empresas de desenvolver ainda mais as tecnologias de IA generativas que já estão atrelados tanto aos sistemas de buscas quanto às redes sociais. O capital investido na área tecnológica não está para brincadeira, assim sendo, se aliar ao governo Trump que acena com a proteção da indústria tecnológica americana frente, por exemplo, aos avanços chineses é uma decisão empresarial coerente.Não por acaso Elon Musk se antecipou e fez o mesmo movimento.
A conjuntura política mudou (Trump chegou a ser banido do Facebook quando alegou, sem provas, que sua derrota para Joe Biden em havia sido fraudulenta em 2020) e o momento não exige mais um discurso tolerante frente as minorias; a mudança anunciada por Zuckerberg da sua sede da “liberal” Califórnia para o retrógrado Texas não deixa de ser simbólico. A aproximação de Zuckerberg com a direita trumpista nos EUA está longe de ser um capricho e tem ligação com a lógica do capitalismo digital atual.